Vai ter jornalismo de dados na mídia independente em PE
Marco Zero e Fogo Cruzado vão treinar jornalistas para produzir reportagens sobre dados e segurança pública
Mídia independente, coletivos de comunicação popular e estudantes. Todos vão mergulhar em jornalismo de dados em uma nova parceria entre a Marco Zero Conteúdo, o Instituto Fogo Cruzado e a Universidade Católica de Pernambuco. Entenda essa mini-revolução nesta edição da Catolé.
“A mídia independente tem todas as condições de produzir jornalismo de dados no Brasil. E tem muita gente fazendo”, afirma o jornalista Laércio Portela, da Marco Zero Conteúdo. Principal referência de jornalismo independente em Pernambuco, a agência está oferecendo bolsas de R$ 1,5 mil para cinco comunicadores que queiram receber treinamento e produzir reportagens sobre segurança pública utilizando dados. As oficinas são desenvolvidas em parceria com a Universidade Católica e com o Instituto Fogo Cruzado.
“O objetivo é qualificar a cobertura sobre violência, sobretudo sobre violência armada, aqui em Pernambuco”, explica Portela. “O que a mídia independente pode trazer como contribuição é esse olhar para a desigualdade. Para as razões dessa violência. E tentar entender não só os números, mas as histórias por trás deles. Nós temos um viés de cobertura mais crítico. Especialmente na cobertura da violação de direitos, que é algo no qual a Marco Zero se especializou ao longo dos últimos seis anos. Por exemplo, abordar o tema do racismo. A gente sabe que muito da violência que existe no Brasil está relacionado ao racismo estrutural”, diz.
A produção de jornalismo de dados em Pernambuco é indissociável da cobertura de segurança. Ela remonta a coberturas profundas, inovadoras e de fôlego, como o PE Body Count e o #UmaPorUma. “A gente tem essa tradição. Mas acho que é preciso também trazer o jornalismo de dados não só para projetos especiais, que sejam publicados em momentos específicos, mas que a gente tenha uma cobertura mais regular também, mais cotidiana. É muito comum que a cobertura da segurança pública fique, às vezes, muito restrita às declarações e falas oficiais”, se queixa Laércio.
Quem participar do projeto, receberá treinamentos ao longo de duas semanas (entre 16 e 26 de novembro) com foco em design da informação; coleta e análise de dados; linguagem visual; e em reportagem. As investigações serão publicadas nos sites da Marco Zero e do Fogo Cruzado em janeiro de 2022. É possível se inscrever até esta sexta-feira (29). Saiba como clicando aqui.
Dentre os cinco selecionados, a agência busca contemplar coletivos de comunicação popular hiperlocais, como os 42 grupos que já produziram reportagens em conjunto com a Marco Zero no projeto Território Vivo. “Muitos deles vivem nos territórios onde essas violências acontecem. Inclusive, as violências praticadas pelo próprio Estado. Essa qualificação pode acrescentar muito ao debate público”, projeta Portela.
Essa produção de conhecimento, porém, não vai ficar restrita aos cinco jornalistas selecionados para as bolsas. Outras oito organizações de mídia independente de cinco estados do Nordeste também participarão das oficinas. “A gente está qualificando o ecossistema da mídia independente, com a certeza de que vamos estar fortalecendo eles. Vamos ter mais gente produzindo conteúdo. E esse conhecimento volta para a Marco Zero, através dos nossos diversos trabalhos colaborativos”, diz Laércio.
Além disso, outras vagas foram disponibilizadas especificamente para os estudantes da Universidade Católica. “É sempre muito saudável essa relação entre academia e mercado. Principalmente quando temos a oportunidade de levar um pouco da forma de pensar da academia para as aplicações práticas do mercado”, argumenta Carol Monteiro, diretora da Escola de Comunicação da instituição.
Aqui na Catolé, já falamos sobre como há pouco treinamento para jornalistas que queiram trabalhar com dados no Nordeste, então eu perguntei a ela se essa parceria abriria portas para novas formações no futuro. A resposta foi que sim. “A gente tem o interesse em fomentar esse conteúdo no curso de Jornalismo, e também na conversa com outras disciplinas. Anthony Lins, que será um dos instrutores, é professor do curso de jogos digitais e de programação. Ele tem uma noção de análise de dados que é fundamental para o jornalismo. Karla Teixeira tem formação em jornalismo, mas especialização em design, então ela vai falar sobre visualização. Esse curso é um exemplo de como a gente pode ampliar essas parcerias e essas interdisciplinaridades”, garantiu Monteiro.
Lembrando que as inscrições são até o final desta semana. O edital completo pode ser consultado aqui.
Prêmio Cláudio Weber Abramo: A dica da vez são os 14 finalistas do Prêmio Cláudio Weber Abramo, principal premiação nacional na área de jornalismo de dados. Há investigações sobre as “rachadinhas” na família Bolsonaro, sobre vacinação e projetos de monitoramento de rede social. Mas eu queria chamar atenção especialmente para a reportagem sobre os assassinatos ocorridos durante o motim da Polícia Militar no Ceará, de Lucas Barbosa, do jornal O Povo, o único veículo do Nordeste na lista.